quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Itália não é a Bolívia

Aquelas rusgas diplomáticas que o Brasil se acostumou a enfrentar são bem diferentes do embroglio em que se meteu com a Itália. Ontem, o governo italiano mandou chamar o seu embaixador em nosso país para que dê explicações oficiais ao governo de Sílvio Berlusconi.

O governo italiano disse que vai continuar pressionando o Brasil para que revise a decisão de ter concedido asilo como refugiado político ao ex-ativista de extrema esquerda, Cesare Battisti. O desconforto das autoridades italianas é tão visível que se chegou a comentar em Roma que o governo iria pedir à seleção nacional que suspendesse o jogo com o Brasil, marcado para o dia 11 de fevereiro, em Londres.

No final da tarde de ontem, no entanto, o governo italiano admitiu que se tratava apenas de uma “provocação”. Mas se foi brincadeira o caso do futebol, a insinuação sobre o cancelamento de convite para o Brasil participar do encontro do G-8 – grupo de elite das grandes potências – chegou a ser mencionado.

No caso do jogo entre as duas seleções, o vice-ministro das Relações Exteriores, Alfredo Mantica, arriscou dizer que era preciso “fazer uma séria consideração sobre a hipótese de cancelar a partida amistosa, pois diante da situação entre Itália e Brasil, corremos o risco de que um espetáculo esportivo se transforme em uma disputa política”.

Sobre o G-8, atualmente presidido pela Itália, Mantica manteve a sua ameaça afirmando que “estávamos prontos para acolher o Brasil e escoltá-lo para o G-8, mas vivemos agora uma desilusão profunda”. E a Itália não só queria o Brasil, a China e a Índia como convidados sem direito a voto, mas sim oficializar a entradas desses países emergentes como integrantes definitivos do G-8.

Em Roma, corre a informação que o governo Berlusconi se sentiu “traído pela decisão do Brasil”, especialmente depois que o presidente Lula esteve na capital italiana, em dezembro, e Berlusconi não poupou esforços para agradar o nosso presidente.

A enrascada que o ministro Tarso Genro criou para o Brasil está apenas no seu primeiro capítulo. A Itália não é a Bolívia.

AMIZADE A PERIGO

O ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini, considerou “um escândalo” a decisão do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, de pedir o arquivamento da solicitação de extradição do governo italiano. Para Franco Frattini, o “Brasil é um grande país amigo da Itália, mas exatamente por isso não esperávamos que fizesse algo tão grave, já que Battisti é um terrorista e não merece status de refugiado político”.

OUTRO PROTESTO

O ministro italiano para Assuntos Europeus, Andrea Ronchi, classificou de “vergonhosa” a postura do Brasil. “É intolerável que o assassino de quatro cidadãos italianos possa ficar em liberdade e viver tranqüilo no Brasil. Estamos drasticamente indignados. É um escândalo moral, uma vergonha que ainda se justifiquem assassinatos”, disse o Ronchi.

MENOS ISSO

A carta que o presidente Lula mandou ao governo italiano repercutiu mal e provocou mais uma manifestação do vice-ministro de Relações Exteriores, Alfredo Mantica: “Lula colocou em discussão a democracia e o sistema jurídico italiano e, francamente, não podemos aceitar receber uma lição do Brasil ou de Lula”.

ITALIANOS REAGEM

A embaixada do Brasil em Roma está recebendo uma avalanche de cartas e e-mails com críticas à decisão do governo brasileiro em dar status de refugiado político a Cesare Battisti. Algumas mensagens vem com palavrões e insultos pesados atacando o Brasil.

Notícia do Jornal O Sul

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